19 fevereiro, 2015

Sobre desfazer laços

Chegou a hora de desatar os laços, os invisíveis, aqueles que só você sabia que existiam. Justo eles que são os laços mais bem dados, os mais bonitos, os que mereciam continuar e serem vistos. Justamente esses que você não quer desfazer - preferiria manter, se não fosse a situação embaraçosa na qual se meteu - são os que mais doem.

Como desatar se você não sabe onde está a ponta do laço? Tudo ficou tão emaranhado por dentro que você não sabe mais por onde começar a puxar. Se fosse câncer, teria sido elevado para uma metástase. Afetou tantas partes do corpo que você se agarra ao dedão do pé - uma das poucas partes que não foram infectadas.

Sem saídas, você chamou a dor pra desfazer o que parecia não ter solução. Como ela chegou devastadora, foi cortando todos os pedaços do laço. Não foi procurando o melhor lugar por onde começar, ela apenas chegou e foi fazendo seu trabalho. Você não podia se defender, nem amenizar a dor. O jeito foi deixar ela trabalhar.

Fim. Laços desfeitos, mas não se sai ileso a um desatar dessa proporção: outras dores já conhecidas e motivos antigos voltam a habitar em você, enquanto lágrimas novas escorrem com grande velocidade pelas cachoeiras dos seus olhos para não voltarem mais.

Com o tempo você percebe que a solução para isso é se redescobrir e se preparar para criar novos laços. Mas, até lá, você vai pensar duas vezes em tirar o cadarço da gaveta.