30 dezembro, 2014

O último do ano

Para a felicidade de uns e tristeza de outros, o vinho está acabando. A garrafa não está mais meio vazia ou meio cheia. Ela está praticamente seca. Seca de líquidos; cheia de memórias.

Todos os dias foi oferecido um gole de vinho. Alguns beberam demais. A ressaca, já que era vinho, foi muito forte. Uma ressaca de alegria e sorrisos francos; de abraços apertados e olhares calorosos. Uma ressaca cheia de histórias para contar.

Alguns goles eram tão fortes que fizeram muitos desabar. A ressaca, nesse caso, era de olhos tristes, coração partido e saudade.

Perdeu mesmo quem não bebeu do gole de vinho oferecido, fosse numa taça ensolarada ou coberta de névoa. Esses sim tiveram muita dor de cabeça.

Ganhou quem bebeu o vinho deitado na cama e enrolado naquela tarde fria; quem ofereceu um pouco dele para quem ainda não bebia ou o desprezava. Quem aproveitou as oportunidades que o vinho trazia em cada amanhecer, anoitecer, amadrugarecer...

As pessoas que, com medo, beberam desse líquido precioso estão, nesse momento, pensando se tiveram ressaca ou se deixaram os outros goles passarem despercebidos.

Amanhã, a garrafa vai secar, mas outra estará cheia, já sem a rolha, esperando que nós tenhamos coragem e tomemos o primeiro gole com a vontade de sentir todos os aromas e sabores que esse vinho pode nos dar. 

Seja ele seco, branco, suave o que importa é que cada gole se adapte e agrade ao nosso paladar.

27 novembro, 2014

Eu cantando

Me deu uma vontade de compartilhar isso com vocês...

Segue o link:

https://plus.google.com/u/0/103920065590382767302/posts/HeksJNNsQj4

É só pra descontrair e curtir um pouco de chá de bolso ou universo de vento, sei lá!

Obrigada, Emanuela Oliveira por ter gravado o vídeo e pra galera do Universo de Bolso pela honra de ter cantado com vocês. UB é uma banda que eu acompanho, sou fã e, principalmente, amiga de alguns dos componentes! ^^

21 novembro, 2014

Rumos

Vamos fazer assim: você fica aí e eu aqui.

Se nos encontrarmos no meio do caminho, nós vamos seguindo.

Cada um na sua estrada.

Cada qual na sua trilha.

Sem lamentar o leite derramado.

Sem as histórias engraçadas.

Sem a necessidade do sorriso.

Sem a possibilidade do abraço apertado.

Sem trazer falsas emoções.

Sem machucar o coração.

Sem o consentimento de um toque afetuoso.

Sem querer estar perto.

Sem a chance de regresso.

Sem o sentimento que um dia existiu.

Sem o olhar de remorso, desprezo.

Sem lamúrias.

Sem emoção.

Sem expectativas para não haver mais desilusão.

Sem o compromisso de saber cada passo e como anda o coração.

Sem algo que traga ao olhar o tempo passado para não causar comoção.

Agora é assim: cada um no seu rumo.

Sem oi; sem tudo bem; sendo apenas o que nos resta: lembranças e nada.

18 outubro, 2014

(Sobre) Vivendo

Não vá esperando que a vida sempre lhe traga de presente um sorriso e um par de olhos.

É mais fácil você receber dela um soco no estômago.

Viver nunca foi tarefa fácil e nunca será.

Ninguém está contente com o que tem até perder o que, até então, considerava fútil.

As coisas que nos acontecem têm sempre um motivo. Dos socos aos gracejos, nada vem ou vai em vão.

Não me considero das pessoas mais felizes, das que tiveram sorte na vida. Tampouco me acho desafortunada o suficiente para dizer que só me acontecem injustiças.

A vida é um caminho de encontros e desencontros.

Já ganhei muita coisa que, num primeiro olhar, parecia inútil. Já perdi muita gente que achava importante para minha sobrevivência.

Se, hoje, aconselho e consolo amigos é porque, ontem, alguém fez o mesmo comigo. E sei que mais cedo ou mais tarde precisarei de ombros novamente.

Se eu tenho tempo para desperdiçar com bobagens ou se ele me falta várias vezes na semana, já não é mais assunto para esse texto.

Eu só queria dizer que estou e, mais importante, me sinto viva. 

Com os tombos (às vezes, literalmente), as ressacas de final de semana e as surpresas de encontrar tanta gente boa no caminho, eu vou entendendo que a vida é um eterno ciclo de meia dúzia de dores que passam e dão lugar para alegrias incontáveis.

12 setembro, 2014

A felicidade me entorpece

Cheiros, sorrisos, abraços me alegram.

Pessoas com suas mais variadas formas de observar a vida me encantam.

Fotografias, músicas, pinturas me levam além de onde eu possa estar.

Viagens, passeios, leituras atiçam minha imaginação 

e me fazem pensar no que eu poderia viver

ou no que poderia ter vivido se não tivesse sido quem sou.

Conquistas minhas e dos alheios que são meus amigos me fazem mais forte.

Declínios, quedas, derrapagens me mostram que,

nem sempre, o caminho que escolhi seguir

é o melhor e mais bonito.

Flores murchas me mostram que o tempo passa,

mas que a beleza não é algo exclusivo da juventude.

Lágrimas, feições de tristeza servem para me dizer

que as pessoas não são ocas;

elas têm sentimentos e demonstram quando querem.

Tragédias me emocionam,

fundamentalismo me enfurece,

sorriso de criança me deixa toda boba

e a felicidade me entorpece.

30 agosto, 2014

Quando o coração sai de casa

O que pode acontecer quando o coração sai de casa?

Antes de sair, ele aproveita o sossego da casa que sempre esteve com ele. A mansidão de todos os dias, a cama quente, a roupa limpa e a comida boa e na hora que quisesse. Bem nutrido, depois de ter aproveitado todas as bem-aventuranças de "casa de mãe/pai", ele recolhe sua pequena fortuna e se sente forte e seguro para sair de casa e desafiar o mundo.

Com as malas prontas, o coração vai embora e começa a vagar por aí. No começo, ele se hospeda em hostel, porque a diária é mais barata e, pelo menos, tem café da manhã garantido. Lá, ele não se preocupa em dividir o quarto com outras pessoas. Na verdade, ele nem se importa com isso. Como o preço da diária é acessível, ele pode reservar vagas em outras hospedagens iguais a essa. Assim, ele não corre o risco de quebrar a cara ou ficar desamparado.

No entanto, ele pode se cansar dessa vida de andarilho e decide procurar um apartamento para morar. Ele quer fixar residência. É aí que ele começa a provar ônus e bônus de morar sozinho. Observando os anúncios da vida, ele identifica um bom apartamento e decide visitar o local para tirar algumas conclusões. Mas, antes de ele pegar o elevador e subir para o 4º andar, o porteiro do prédio avisa que o apartamento desejado já tem morador.

Então, o coração continua sua procura. É difícil, mas ele segue. Às vezes, o apartamento que ele quer até está desocupado, mas a estrutura apresenta falhas, risco de desmoronar e ele se vê obrigado a sair pelo perigo de cair junto. Outras vezes, é o dono do apartamento quem o convida para entrar, conhecer o ambiente e, quem sabe, morar. Só que coração é bicho estabanado e já chega quebrando os copos, fechando a porta da geladeira com o pé e, por isso, ele é convidado a se retirar do imóvel devido aos maus tratos.

É nessa hora que o coração decide voltar pra casa. Ele quer se recuperar, reunir forças, pensar sozinho e sossegado para, outra vez, sair e retomar a busca.

Depois desse processo revigorante, o coração ganha confiança e, por muito merecimento, encontra um lar acolhedor e permanece lá por muito tempo, já que ele também forneceu abrigo para um outro coração.

Nem todo coração passa por esse mesmo processo. Nem todos são tão afoitos ou encontram uma casa nova. Mas todo coração que se preze tem que se dispor a sair de casa levando consigo, além de muita coragem e afeto, um kit salva-vidas e uma garrafa de vinho.

29 julho, 2014

Deus me livre e guarde!

Deus me livre e guarde dessa gente falsa, mesquinha, invejosa e sem escrúpulos.

Deus me livre desse povo que mente pra ter sucesso, pra ser alguém, pra ser melhor que alguém.

Deus me guarde de quem jura em nome d'Ele para tirar proveito da bondade alheia.

Deus me proteja dos sem amor pra dar; dos sem coração; dos sem carinho.

Deus me livre de gente amarga demais, de gente doce demais.

Deus me proteja de gente mais ou menos, de que gente que nem fede e nem cheira.

Deus me defenda de quem chega com o narizinho empinado e o dedo direcionado para cara do outro.

Deus me guarde de quem só vive apontando o defeito alheio e se esquece do olho torto que tem.

Deus me proteja de quem se acha dono do mundo; de quem se acha o certo; de quem acha que não erra.

Deus me livre de gente arrogante e que chega dizendo "o bonitinho que fez isso aí..."

Deus me guarde de quem não ama livremente.

Deus me livre de gente que arrota preconceito.

Deus me proteja de quem tem inveja da felicidade alheia, de gente que não consegue sorrir sem fazer com que o outro esteja chorando.

Deus me guarde daqueles que veem, mas não enxergam beleza na simplicidade da vida.

Deus me livre de quem não gosta da vida.

Deus me livre e guarde de ser assim.

Deus me livre e guarde de mim.

21 julho, 2014

Alguém do nada

Quem chega do nada não quer pretexto, nem conversa escondida.

Quem chega do nada só quer um banco disponível e um assunto que surge do nada.

Quem chega do nada cria afinidade ou a revela. Descobre e conta segredos.

Ri do nada. Fala bobagem. Conta piada. 

Quem chega do nada só quer fazer o outro sorrir com boca e coração.

Quem chega do nada não traz mãos frias, coração áspero ou expectativas.

Traz o olho vibrante, as mãos quentes e um coração que se adequa ao momento.

Chega sem medo de se arrepender, de quebrar a cara.

Chega blefando, porque, se colar colou.

Não conta mentiras, mas omite verdades que, na verdade, não são convenientes no momento.

Quem chega do nada não se preocupa com passado obscuro, mas não quer alguém ressentido ou mal resolvido.

Não tá procurando colo, nem abrigo.

Mas se encontrar, mesmo assim, chegando do nada, vai sentir alívio por não ser como os outros calculistas; estrategistas.

Quem chega do nada gosta da surpresa dada e recebida.

Quem vem do nada, pode sumir do nada, mas fica como recordação do momento.

Na primeira vez, a hora de ir é menos dolorida pra quem chega do nada.

Se acontecer uma segunda vez, o do nada se tornou o de hoje. Quem sabe, vai se tornar o de amanhã, o dos dias de chuva, das tardes de sábado, da mensagem enviada e recebida no meio da noite.

Por um mundo em que os do nada surjam com mais frequência, porque o coração sempre precisa bater mais forte sem motivo aparente, sem predestinação. Ele precisa acelerar, assim, do nada.

04 julho, 2014

O que não se sabe

Um passo em falso, uma queda certa num buraco raso.

Uma alegria imensa, um sorriso aberto. Um rancor profundo.

Pode não ser assim, mas o que importa se nada é como era? 

Hoje pode ser melhor sem olhar pra trás,sem seguir a seta.

Onde está o acaso?

Onde está o arriscado?

Onde está todo mundo, se o mundo parou?

Se a luz no fim do túnel for só de uma lanterna, eu desisto. 

Prefiro não lutar por coisas inúteis que não me cabem.

Pode ser que o amanhã seja mais bonito, mais alegre. 

Pode ser também que a onda arrebente e me quebre.

O acaso acabou.

Ninguém arriscou.

Todo mundo sumiu e o mundo continuou.

28 junho, 2014

Relógio

*Para Maiara Silva

Não perca tempo com quem não quer nada.
Não saia antes da hora.
Não deixe pra lá o que seria melhor estar aqui.
Não perca tempo com quem te faz mal.
Não deixe ir quem te faz feliz.
Não espere a última badalada pra sair da festa.
Não espere muito. Faça.
Não canse de tentar.
Não busque nos outros a felicidade que existe em você.
Não distribua seus melhores sorrisos pra quem não merece.
Não derrame lágrimas à toa.
Não pareça ser quem você não é.
Não diga menos "por favor" que "obrigada".
Não subestime nem superestime os outros.
Não seja grossa com quem só merece seu silêncio.
Não gaste suas palavras com quem não pode te ouvir.
Não deixe de fazer seus amigos sorrirem.
Não guarde rancor.
Não maltrate.
Não deixe a vida passar enquanto você dorme mais que deveria.
Não deixe de ser a boa pessoa que você já é.
Não perca tempo lendo os conselhos de uma irmã mais velha que pouco sabe da vida.
E, o mais importante: não perca a capacidade de enxergar em plena escuridão.

14 maio, 2014

A visita

Chegou de novo, do nada, como quem só quisesse passar pra deixar um oi.

Mas do "oi" ficou pra conversar mais sobre o que estava se passando por nossas vidas.

Estando a par da situação, resolveu ficar pro almoço. Decidiu saber um pouco mais da minha jornada.

Almoçamos juntos. Acabamos dividindo mais que a comida; partilhamos nossos dissabores, as tristezas, a esperança de um futuro melhor e a vontade de sermos felizes a partir do que já tínhamos.

Almoçamos nossas vidas. E elas foram servidas como pratos simples.

Mesmo sendo a visita inesperada, me ajudou com a louça. Lavou tudo. Tirou as manchas do passado. Tudo limpo agora.

De sobremesa, sentimos os sabores dos nossos sonhos. Eles são doces. São bons.

Depois de uma tarde na rede, objeto que embalou nossas canções, resolvemos sair pra jantar.

Jantamos as alegrias das histórias bem vividas.

E quem chegou do nada, ficou pra dormir.

Dormi sob um céu estrelado e acordei com o azul dele olhando pra mim.

E foi assim que a visita se tornou minha morada.

02 maio, 2014

Fechado!

Ele devolveu a chave. Dessa vez, para sempre.

Não imaginava que a dor seria tão grande no momento em que visse aquele objeto por baixo da porta, junto com um bilhete escrito de maneira simples: "olá, espero que você fique bem."

Não fiquei.

Aquela chave não foi feita para estar comigo. Eu já tinha a minha. Aquela era a dele.

Ele que ao voltar encontrou a casa arrumada, a desarrumou, de novo. Ele que tinha trocado a fechadura da porta para ter acesso exclusivo, desprezou a forma mais segura de estar na minha vida. Ele que que se dispusera a ajudar, tirou o corpo fora. Fora da minha rotina. Fora de mim. 

Ele devolveu a chave. Dessa vez, sem olhar pra trás.

Agora, está em um lugar cujo acesso conseguiu com muito custo e, por isso, é melhor que o lugar que habitava em mim. Conquistou um espaço no qual as portas estão sempre abertas para ele.

Aqui estou com as duas chaves para uma mesma porta.

***

Mudei a fechadura. Tranquei a porta.

Dessa vez, joguei as chaves fora.

08 abril, 2014

Dicas desnecessárias de uma criatura em conserto

Não sei bem ao certo como tudo começou, mas lembro bem como tudo terminou.
Mas não quero contar como aconteceu.
Quero dizer como não se comportar diante uma situação de término de relação.
Não se entregue à saudade. Não faça dela a porta de entrada para a desesperança.
Não superinterprete um emoticon em forma de sorriso ou duas frases de solidariedade. Na maioria das vezes, ela só querem dizer aquilo mesmo.
Portanto, não ache que ele/ela está com saudades ou se arrependeu do que fez.
Não provoque encontros na tentativa de fazer com que a pessoa enxergue em você algo que ainda não conseguiu ver. Boa parte das situações se tornam constrangedoras e você não consegue mostrar nada além do que ele/ela já sabia.
Você continua sendo uma pessoa que ele/ela acha legal, mas não mais para retomar de onde vocês pararam. Aceite a amizade que lhe foi oferecida. É o máximo que a pessoa pode lhe dar.
Outra situação: vocês vão sair.
 
Só porque o encontro foi programado pelo outro ser humano, não fique pensando que no desenrolar da conversa, você ouvirá um: desculpa pelo que fiz, fui bobo/boba e te chamei pra sair porque quero você de volta na minha vida pra sempre.
 
Não fique imaginando que, só porque vocês conversaram, riram, ele/ela contou como foi na faculdade ou trabalho, você contou seus planos, todos riram da sua imaginação fértil e, depois disso, vocês foram pra um lugar mais reservado, que você estará com uma aliança na mão direita daqui a um mês. Imagina-se que boa parte disso seja natural quando você sai com alguém.
 
O que acontece é que as malditas expectativas tomam conta de todo o seu ser e, no final, o que pode acontecer é você se desesperar porque nada aconteceu como você gostaria.
 
Se for pra criar todas essas expectativas, melhor nem ir.
Na verdade, seja consciente e tome a decisão que achar melhor. Peque por ir ou não. Arque com as consequências dos seus atos. Se não for, não fique lamentando o “se eu tivesse ido tudo poderia estar melhor agora”. Não foi, não foi. Perdeu, playboy.
Diferente da chácara do Chico Bolacha (valeu, Cecília!), se você for procurar algo que a seleta pessoa fez nas redes sociais, você acha. E, na maioria das vezes, infelizmente, não encontra muita coisa legal. Portanto, não dê brechas pra raiva ou ciúme desnecessário de uma pessoa que nem está mais com você.
Dicas finais: não tente soltar indiretas, a não ser que você esteja preparado/preparada pra ouvir os seus sonhos sendo quebrados; não puxe uma conversa com histórias inventadas, principalmente, se você inseriu mais de duas pessoas na história (convencer uma pessoa a mentir é uma coisa, agora duas...); e, por fim, vá procurar o que fazer. É isso mesmo: vá escrever, ler, pular corda, pentear macaco e deixe a pessoa ser feliz com quem ela quiser.
Dói fazer isso? No começo, dói de ter dó de si mesmo, mas é necessário. É ruim ver a pessoa que você ainda gosta sendo feliz com outra? Poxa, pra ser sincera, é horrível porque você começa a se achar o poço da incompetência amorosa, a última pessoa na fila dos esquecidos pelo Cupido.
Não sou pessimista. Claro, algumas pessoas voltam e voltam pra sempre. O que quero dizer é que tudo é possível nessas questões de amor. O melhor mesmo é ir com calma e deixar que a situação se esclareça para, a partir disso, acreditar que tudo vá dar certo outra vez ou não.
O certo mesmo é que a vida tem que seguir. Aos trancos e barrancos, quem sabe. Mas, por favor, não transforme os barrancos em montanhas. Possa ser que você não seja um bom alpinista.

24 março, 2014

Também perdi o medo da chuva

Hoje eu vou sair sem guarda-chuva.

Quero sentir cada pingo de água tocando meu corpo.

E depois, jogar pra frente o meu cabelo molhado que gruda no pescoço.

Vou brincar com as gotas d'água que deslizam das nuvens.

Trazendo a vibração que vem de longe.

Contando histórias de lugares onde ainda não fui, mas que vieram até aqui.

Quero dançar como um bêbado no meio do temporal.

Sem vergonha.

Sem medo de cair.

Pronta para rodopiar.

Enquanto isso, vou cantando.

Dando voz a canções inventadas na hora.

Porque essas são as mais sinceras; elas vêm e falam pela alma.

Não vou me calar nem parar de dançar.

E vou continuar sentindo a água escorrendo por mim.

Quero me lavar de vez.

Quero ficar limpa por fora e por dentro.

Porque a chuva vai ser forte e vai me inundar!

Vou me afogar, mas vou viver.

E depois, quando a chuva parar, vou ficar nua.

Despida de culpas e remorsos, vou me vestir de esperança.

E minha esperança será tão grande que vai, em alguns momentos, ofuscar o brilho do sol.

Vai ser assim.

Hoje, eu vou sair. 

Sem capa, sem guarda-chuva, sem proteção.

19 março, 2014

Não sou Luther King, mas também tenho um sonho

Eu sonho em encontrar um dia, alguém que goste de mim como sou. Com todas as minhas manias, piadas sem graça e até as forçadas. Com minha geniosidade e ignorância; mesmo quando eu fizer uso da grosseria através da escrita. Que, mesmo assim, essa pessoa insista em lutar por mim.

Mesmo que perceba minha falta de interesse, mesmo notando todas as vezes que eu olho pro nada esperando que o inesperado aconteça. Mesmo notando o meu mau humor em tempos de estresse, a minha mania de enrolar o cabelo já cacheado e as pontas dos dedos encaliçadas pelas cordas do violão.

Ainda que essa pessoa enxergue o meu lado mesquinho, minhas horas de egoísmo e prepotência. Minhas horas de fraqueza, de desânimo e descrença e, mesmo assim, ela não pense duas vezes em me querer por perto pra tentar me transformar numa pessoa melhor.

Que esse alguém se encante pelo meu sorriso, meus olhos miúdos, pelas voltas do meu cabelo. Pela certa facilidade que tenho em falar em público e, sem perceber, de sorrir para desconhecidos. Que esse alguém goste de mim pelas vezes que eu defender alguém que não conheço ou ao ver meus olhos brilhando ao ouvir um poema ou música.

Que se encante pela minha força de vontade em tentar tocar, cantar, compor e escrever, não bem, mas ao menos de forma não desprezível.

Que diga que eu sou uma pessoa especial, que fui capaz de provocar borboletas no estômago, que ele se desconcentrou no trabalho porque estava pensando em mim. Que essa pessoa se diga apaixonada por mim, apesar da minha impaciência e intolerância com atrasos. E que foi minha única covinha na bochecha direita o que lhe encantou.

Sei que tantos sonham com isso. Tantos já viveram, outros vivem e também sei que uma boa parte me faz companhia nesse sonho, vontade, esperança de acreditar que é capaz de fazer com que alguém te entregue flores em forma de sorriso e o coração num abraço.


Espero que nós, ao menos uma vez, participemos da máxima que diz que é possível ser amado por aquele que você ama.

06 março, 2014

O último

Deve ser porque conhece minhas entrelinhas mesmo quando deixo as frases em espaçamento simples; por encontrar brechas pra dúvidas quando acho que não pode surgir qualquer tipo de pergunta. Deve ser porque é um psicólogo de nascença.

Pode ser porque viveu as mesmas incertezas, algumas maiores outras não, mas tirou um aprendizado da vida; coisa que ainda não tenho. Deve ser porque se permitiu viver e ser feliz do jeito que me recomenda.

Uma hipótese é a de que gosta de provocar sensações de alívio e conforto nas inquietações que não sei controlar. Porque não quer ser motivo de desenganos, tristezas e lágrimas, já que sua alegria vibra na pele como o acorde mais grave.

Porque pode ser telepata ou, simplesmente, ter a sensibilidade para perceber e ajudar nos apuros de um ser em crescimento emocional. Por saber que a felicidade vem de dentro pra fora, que o mundo tá louco demais pra quem sabe pouco dele.

Vai ver é filósofo ou gosta de lançar teorias. Pra provar que é sábio e forte, mas com alma de menino que gosta de fazer caretas e brincar sem se preocupar com o dedo esfolado no fim. Vai ver que é porque pede colo à mãe em meio aos seus próprios desesperos.


Deve ser porque ele e eu somos iguais, mas com uma diferença: ele já está ficando grande e eu ainda estou nascendo.

25 fevereiro, 2014

Contas

Tantas coisas têm preço nessa vida.

Então, o preço do amor, alguém me diz?
O que vale mais: um amor no coração ou dois na prateleira?
Tem promoção: leve carinho e ganhe um sorriso?
Pro amor verdadeiro a gente tem que economizar sentimentos ou pode gastar livremente sem medo?

O preço da felicidade pode ser mais baixo que a taxa de juros que pago do cartão?

Dançar sozinho é mais barato?
Lembrar que tem que esquecer custa caro?
Um coração partido pode ser vendido como promoção?
Eu consigo pagar o preço por desistir de tentar?
A conta da saudade pode ser dividida?

O preço do perdão cabe no orçamento?
Vale a pena acreditar?
Dá pra comprar esperança com o troco da dor?

Qual a parcela de chance de eu ganhar a partida se apostar alto em você?

O último a pagar a conta desliga a calculadora.

17 fevereiro, 2014

Instinto

Razão e emoção andam lado a lado, duelando, procurando espaço na minha vida. Um quer ser maior que o outro e disputam por mim.

O que eles não sabem é que ocupam um lugar privilegiado em mim, dependendo do que eu vá realizar.

Sou racional ao fazer compras, ao dividir o orçamento do mês e mantê-lo até o fim (do mês ou do dinheiro). Na hora de pegar o ônibus para um lugar que nunca fui, para decidir a rotina do dia.

Sou toda emoção ao ler um texto sobre memórias de alguém, ao ver uma criança sorrir. Infelizmente, sou emoção ao dirigir; ao ouvir uma música que poderia ter sido pra mim.

Sou razão no sim e no não, e emoção no talvez já que as dúvidas sempre são inquietantes. Sou toda emoção quando vejo o brilho do olho de quem gosto, porque ele tem um jeito diferente de se mostrar pra mim. Mas sou razão ao ouvir e aconselhar um amigo desesperado, pois lista de prós e contras também é capaz de reconciliar ou atar vidas.

Dependendo do dia, de quem e do que for, eu usarei quem me parecer conveniente. Mas, às vezes, os dois estão errados e é melhor agir no impulso.

10 fevereiro, 2014

Por toda a minha vida

Não importa o passar do tempo, eu vou seguir te amando.

Mas não farei cenas de ciúme, nem cometerei loucuras por amor.

Não perderei o sono ou o ar ao te ver. 

Não sonharei com beijos apaixonados ou olhares de ternura.

Não vou ter borboletas no estômago quando lembrar dos teus beijos quentes em minha barriga.

Não perguntarei como vai o trabalho ou sua vida.

Não vou puxar conversa nem propor encontros para matar a saudade que sufoca.

Não vou guardar meu corpo só pros seus prazeres.

Nem vou poupar meu coração de bater forte por outra pessoa.

Mesmo assim, vou seguir te amando.

Porque meu amor por você é como o primeiro quadro em uma parede: no começo, só há ele para cuidar e admirar, mas, com o passar do tempo, ele ganha companhia. Aparecem outros quadros, outros rostos, mas o primeiro... Ah, o primeiro vai permanecer no seu lugar: no centro, no lugar principal.

Nem todo amor que será para sempre será o mesmo amor que estará ao meu lado pro resto da vida.

21 janeiro, 2014

Rotina

Ela acorda e se encanta.
Tira a corda do pescoço
e põe um colar no lugar.

Canta um bom dia 
e desencanta a tristeza 
que estava na gaveta.

Devidamente engavetada
as lamúrias, ela
engarrafa a solidão.

Como adorno,
a alegria vai na orelha;
nos pés, a coragem.

Segue com um brilho
nos lábios e um sorriso
nos olhos.

Retorna.
Pra dormir, veste
um pijama de sonhos.

Adormece
e
esquece.

No outro dia,
é outro dia e ela vai
dobrar, guardar,
engavetar coisas.

E segue a rotina da 
vida para se arrumar 
de novo.

14 janeiro, 2014

Meus 20 e poucos anos...

Com o tempo, aprendi que falar demais pode trazer danos, que escutar os outros faz bem e ajuda a refletir. E que nada é por acaso.

Aprendi que as pessoas têm o direito e até o dever de sair e voltar para meu convívio e que não sei lidar bem com isso. Entendi que os amigos têm o dom de curar feridas da mesma forma que podem abrir uma e dependendo do diálogo entre os envolvidos, as feridas podem durar para sempre.

Aprendi que perdoar e esquecer são palavras fundamentais para uma boa amizade, da mesma forma que ouvir e dizer "não"; além de que os melhores conselhos vêm deles. Que não há ombro mais confortável, ouvidos mais dispostos e coração mais generoso que os dos verdadeiros amigos e que não importa distância e tempo, pois eles são o que são e o que importa é sentir.

Aprendi que ser plano b ou c na vida de alguém machuca e que essa situação não é fácil de enxergar. Que nem sempre um sentimento verdadeiro segura uma relação e que a dor do fim parece ser eterna. Só parece. Que um novo despertar é preciso e que beleza não é pré-requisito para uma relação.

Levantar cedo para ir trabalhar é difícil, mas necessário. Que acreditar no seu talento é peça chave para ser feliz no que você estiver fazendo e que pedir ajuda aos colegas é necessário e não é vergonhoso.

Aprendi a receber abraços verdadeiros de pessoas desconhecidas e ouvir delas palavras determinantes para minha vida. Que é entre família que se descobre o porquê de ser assim e na solidão entendi que não posso viver sozinha.

Ainda não aprendi a nadar, desenhar ou dirigir de verdade. Mas entendi que ainda tenho muito o que aprender e que um sorriso sincero traz cor ao dia cinza.