24 janeiro, 2013

Ida

Entende, por favor. Eu tenho que ir porque preciso estar longe da tua voz, olhar, carícias e beijos. Se não existe mais o “nós”, é hora de um dos dois partir. Não aguento mais ter que controlar meus sentimentos cada vez que penso em te ligar ou quando te abraço. Sinto que cada vez que nos falamos, uma chama em mim queima com mais fulgor, minhas entranhas se remexem e meu estômago se torna um viveiro de borboletas. É como se tua voz fosse o fósforo que acendesse dentro de mim o tonel de pólvora que existe. E ele explode. E sinto a chama tomar conta de tudo. Mas quando você vai, só sinto as cinzas que sobraram.

Setas perigosas esses teus olhos negros. Eles me perfuram, sinto a dor. A luz que vem deles é capaz de clarear até a alma mais escura. A mim, ilumina. Meia-noite vira meio-dia e nem dos óculos preciso mais. Você vai; tudo fica escuro como antes da criação.

Não quero lembrar tuas mãos e boca pelo meu corpo. Máquina de tortura. Ao mesmo tempo, pluma leve que acalmava. Doía, mas eu relaxava. Era do que eu precisava pra sentir os meus músculos, pra saber que eu não tinha só o meu coração que, naquele tempo, já era teu, mas que existia em mim outro corpo que tremia por você. Sem você, vivo na inércia.

Entendeu por que devo ir? O pouco de vida que sobrou em mim precisa ser preservado. Vou deixar o tempo apagar meu amor por você e, caso não dê certo, vou contar a todos que já existiu na terra, um homem capaz de matar alguém dando um sopro de vida.

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